Posso pensar alto?
A prorrogação da CPMF é bem razoável, tô fora desse papo caído de extinguir um mísero imposto de 0.38% sobre qualquer movimentação financeira. Que o Congresso decida e me conte no final. Pra isso eu votei, pra eles trabalharem pensando nessas coisas difíceis enquanto eu tô na praia.
Foi criada como salvação da saúde pública, em caráter emergencial pra fazer um caixinha e, como todo crime, (tão inconstitucional que é sua reedição) foi ficando gostoso pro agente ativo e nós, passivamente – como aparentemente dói pouco no bolso, fomos agüentando, ano após ano, a facadinha semanal no extrato bancário.
Talvez o custo da extinção do impostico seja mais onerosa que sua manutenção, pelo que vi.
São alguns bilhões a mais no orçamento. Saúde, transporte, folha, foda-se – mal me interessa onde andam sendo gastos, partindo do fato de que eu não fico lendo o DOU pra saber onde e quem anda gastando quanto e onde. Sei que a água sai da minha torneira, o sinal fica vermelho e eu atravesso na faixa, um diplomata brasileiro está agora bebendo champanhe e fazendo a social necessária em algma festa na Chechênia, essas coisas. Sei que isso tudo custa, e são meus agentes, eu pago o salário deles em algum momento.
Ouvi alguém falar em máquina enxuta do governo. Enxuta é aquela concorrente da Brastemp, não?
Olho em volta e não vejo saída. Há um contingencial gigantesco da população que está dependendo do dinheiro público, tanto como salário contra prestação de serviço quanto aposentadoria. Nosso país é sustentado pela volta que o dinheiro dá na folha de pagamento do governo (funcionário público paga colégio pro filho, compra carro, contrata empregado doméstico, gasta no supermercado).
Há, pela deficiência do mercado de trabalho, que sequer absorve nossos heróicos cidadãos portadores de diploma universitário, uma óbvia adoração pelo empreguinho público. Vá ver a quantidade de preparatórios (pra qualquer coisa – de Advogado Geral da União a merendeira) que existem por aí. Vá na praia de Copacabana pelo meio dia durante a semana, e pergunte quantos ali estão “estudando pra concurso”.
De onde viria o dinheiro pra pagar essa conta toda? Cornucópia é lenda, pensa em outra. Ah, impostos.
De braços dados com a ultradesajustada distribuição de renda vai a informalidade da economia no geral (sou leeeeeeeeeeeeeeigo!). Vai cobrar imposto sobre circulação de mercadorias onde? Cadê a nota fiscal? Imposto de renda retido na fonte é uma aliteração linda de morrer, mas é privilégio de uma nata, bem empregada o suficiente pra receber de volta um chorinho na restituição do ano seguinte.
Se acabar com o impostinho, alguém vai ter que cobrir o buraco giga que vai ser deixado de lembrança no orçamento. E quem já paga imposto vai pagar MAIS do que os 0,38%, disso não resta a menor dúvida – porque o mote da CPMF é exatamente pegar o gato pelo rabo, a grana na boca do caixa. Do camelô ao industrial, todo mundo na mesma ceifa, cada um do seu jeito.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Há profunda sabedoria no canto da mulata.Perdão pelos termos xulos, mas esse assunto é sarjeta, e semelhante atrai semelhante, sorry. Bom feriado! Vou acampar no Sana!
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