26 de agosto de 2007
Tropa de Elite – me deixou bem chateado, do jeito que não gosto que aconteça no cinema. Me fez pensar nos meus erros. É um jeito tosco de ser chamado à reflexão esse. Tenho uma profunda inveja desse manliness dos policiais. Não tenho a habilidade de expressar minhas idéias de um modo viril, yan, macho. (Não reclamo, mas acho bom que eu tenha essa percepção de realidade para não cair na desgraça de uma impressão equivocada sobre mim mesmo – em processo de aperfeiçoamento). Falo com um certo tédio, uma certa distância do interlocutor, voz anasalada, sotaque ridiculamente escorregadio e um ar professoral bem caipira às vezes e só recentemente encontrei a glória que é o silêncio guardado. Mesmo assim não sei bem a hora de fechar a matraca antes do mal estar generalizado advindo de uma frase ou comentário infeliz de minha parte. That´s who I am, no big deal.
3 de setembro
Acho que todo o broo-ha-ha causado pelo estupendo sucesso de vendas do Tropa de Elite no camelô é mais uma prova, viva e intangível, da profunda ignorância própria do povo brasileiro, do qual faço parte.
Veja bem, caiu um avião em São Paulo mês passado e foi uma calamidade daquelas amadas pelos editores de jornal, dias e dias e dias de manchetes, reportagens longas, reverso, grooving e quetais. Na CPI que investiga a loucura do controle de tráfego aéreo se voltou a atenção pro (perdão, perdão) “acidente da TAM” (saco, saco). Assim, magicamente passamos da comoção quase internacional pra saturação e, finalmente, desinteresse.
Tropa de Elite, filmaço, comprado no camelô por inúmeros cariocas, assistido por tantos outros; colocou a indústria do pirata na manchete dos jornais cariocas. Apreende, investiga, chama o diretor, o cara da empresa de legendagem, chama o ator, carnificina.
Me conta, qual foi do bagulho? Qual a razão da gente andar na Rio Branco, e em qualquer esquina, a qualquer hora, poder sempre comprar a dez real qualquer lançamento de cinema na cara dos puliça e ninguém nunca fala nada? Maria Antonieta vale menos que o BOPE?
O Presidente viu o filme dos Filhos de Francisco no piratão, aliás, a bordo do Brazilian Air Force One, com dona Marise, imagino, linda, amiga, esposa, aconchegada na poltrona ao lado. Deu um certo rebú, era pirata, nem existia DVD original ainda, mas em algumas horas ninguém já falava mais disso.
Se o piratão age fácil na cara de todo mundo, qual é a razão do bafo quente, pergunto eu mais uma vez.
Francamente, ô.
Ah. Perguntei pros meus porteiros se algum tinha visto o filme, o resultado do DataLulu na portaria foi zero. Faxineira, motorista de táxi, povão – alguns até ouviram falar, mas nenhum realmente tinha visto. Todos os comentários sobre o filme vieram dos meus amigos e conhecidos que realmente podiam pagar pra ver no cinema.
Tudo é muito feio, não tem como defender a pirataria (blábláblá) mas acho que vai ser bom pra todo mundo, no final das contas.
Vou emendar um chutômetro rápido aqui:
Encontraram 28 mil cópias do DVD na Baixada Fluminense. Vamos considerar que umas 50 mil cópias vazaram e foram vendidas na Uru. Caçei uns dados e achei as maiores bilheterias nacionais do ano passado na Veja:
A GRANDE FAMÍLIA, O FILME - 2.027.353
XUXA GÊMEAS - 1.001.480
O CAVALEIRO DIDI E A PRINCESA LILI - 736.293
A TURMA DA MÔNICA EM UMA AVENTURA NO TEMPO - 508.964
Ó PAÍ, Ó - 382.386
CAIXA DOIS - 247.115
O CHEIRO DO RALO - 150.378
NÃO POR ACASO - 78,313
ANTÔNIA - 79.389
CARTOLA - 62.042
Chamo aqui a atenção pros red carpet material Grande Família, Xuxa, Didi e demais menções honrosas à produção cultural nacional. Não tem como reduzir o consumo de drogas num país com um cinema desses, pelamordedeus!!!!!! Sejamos francos. Não tem como. O filme do Bope é só uma constatação triste de uma existência patética.
Francamente, 50 mil não é nada. Mas mais uma vez, prefiro ser inconclusivo e não defender que acabou sendo bom pro diretor porque crime nunca é bom pra ninguém – mas alguns números falam por si. E o futuro.
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