Thursday, September 06, 2007

Posso pensar alto?
A prorrogação da CPMF é bem razoável, tô fora desse papo caído de extinguir um mísero imposto de 0.38% sobre qualquer movimentação financeira. Que o Congresso decida e me conte no final. Pra isso eu votei, pra eles trabalharem pensando nessas coisas difíceis enquanto eu tô na praia.
Foi criada como salvação da saúde pública, em caráter emergencial pra fazer um caixinha e, como todo crime, (tão inconstitucional que é sua reedição) foi ficando gostoso pro agente ativo e nós, passivamente – como aparentemente dói pouco no bolso, fomos agüentando, ano após ano, a facadinha semanal no extrato bancário.
Talvez o custo da extinção do impostico seja mais onerosa que sua manutenção, pelo que vi.
São alguns bilhões a mais no orçamento. Saúde, transporte, folha, foda-se – mal me interessa onde andam sendo gastos, partindo do fato de que eu não fico lendo o DOU pra saber onde e quem anda gastando quanto e onde. Sei que a água sai da minha torneira, o sinal fica vermelho e eu atravesso na faixa, um diplomata brasileiro está agora bebendo champanhe e fazendo a social necessária em algma festa na Chechênia, essas coisas. Sei que isso tudo custa, e são meus agentes, eu pago o salário deles em algum momento.
Ouvi alguém falar em máquina enxuta do governo. Enxuta é aquela concorrente da Brastemp, não?
Olho em volta e não vejo saída. Há um contingencial gigantesco da população que está dependendo do dinheiro público, tanto como salário contra prestação de serviço quanto aposentadoria. Nosso país é sustentado pela volta que o dinheiro dá na folha de pagamento do governo (funcionário público paga colégio pro filho, compra carro, contrata empregado doméstico, gasta no supermercado).
Há, pela deficiência do mercado de trabalho, que sequer absorve nossos heróicos cidadãos portadores de diploma universitário, uma óbvia adoração pelo empreguinho público. Vá ver a quantidade de preparatórios (pra qualquer coisa – de Advogado Geral da União a merendeira) que existem por aí. Vá na praia de Copacabana pelo meio dia durante a semana, e pergunte quantos ali estão “estudando pra concurso”.
De onde viria o dinheiro pra pagar essa conta toda? Cornucópia é lenda, pensa em outra. Ah, impostos.
De braços dados com a ultradesajustada distribuição de renda vai a informalidade da economia no geral (sou leeeeeeeeeeeeeeigo!). Vai cobrar imposto sobre circulação de mercadorias onde? Cadê a nota fiscal? Imposto de renda retido na fonte é uma aliteração linda de morrer, mas é privilégio de uma nata, bem empregada o suficiente pra receber de volta um chorinho na restituição do ano seguinte.
Se acabar com o impostinho, alguém vai ter que cobrir o buraco giga que vai ser deixado de lembrança no orçamento. E quem já paga imposto vai pagar MAIS do que os 0,38%, disso não resta a menor dúvida – porque o mote da CPMF é exatamente pegar o gato pelo rabo, a grana na boca do caixa. Do camelô ao industrial, todo mundo na mesma ceifa, cada um do seu jeito.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Há profunda sabedoria no canto da mulata.Perdão pelos termos xulos, mas esse assunto é sarjeta, e semelhante atrai semelhante, sorry. Bom feriado! Vou acampar no Sana!

Monday, September 03, 2007

Acho todo esse papo de nova família – monoparental, poliparental, homoafetiva, o que quer que seja – bem chato.
Vi uma propaganda na televisão sobre um programa (mais um) sobre esse tema sempre tão (sono) interessante, e um sujeito deu depoimento, quase histriônico: “Eu tenho duas mães!” (medo, medo, uma cara de pirado que só ele)
Ué, azeite. Que que eu tenho a ver com os problemas dele, e o que o fato dele ter duas ou três mães faz diferença pra alguém? Há necessidade de debater essa besteira no legislativo? Há necessidade da Igreja se posicionar a respeito? Desconfio que não.
Nossos arquétipos, pai e mãe, antecedem a terminologia. Fora os hermafroditas e algumas amebas, talvez, nenhum outro animal se reproduz sem que um bichinho assim cruze com um bichinho assado. Depois resolvemos organizar os que têm seios, são lindos e têm a capacidade de gerar outro da mesma espécie, dentro ou fora do corpo, de fêmeas – e aqueles que não conseguem sair da adolescência e preferem a caça e o exterior à casa, de machos (ui).
Então, desde antes da gente os entender como tal, já haviam um pai e uma mãe, com questões genéticas diversas e complementares, que somadas dão num novo ser.
Daí vieram as religiões, e toda forma de expressão de cultura que situa a família num triângulo composto de pai, mãe e filho. Árvore genealógica, etc. etc.
Não dá pra inventar uma árvore nova, de galhos que não se encontram e não se cruzam – ou não têm qualquer relação consangüínea. A não ser que realmente a gente passe a comprar criança no supermercado, pronta pra nascer, na embalagem tetrapac. Por enquanto, do jeito que está, acho besta a idéia de tentar mudar isso tudo.
Mas dá pra ser feliz sem nada disso, talvez; e é o que nos parece, pelo que se vê. Conheço filhos (adotados) de gays solteiros absolutamente sociais, lado a lado de filhos de famílias absolutamente tradicionais que mal têm condições de se sustentar de tão seqüelados. Há filhos de casais gays tão malucos quanto qualquer outro, essa ciência não é cartesiana – dã, novidade. Mas daí a se atrever a burilar uma nova composição pra família é mais que afrontar um preceito cultural empoeirado, é... burrice pura.
Vamos ser caretas de vez em quando, nem que seja por rebeldia.

26 de agosto de 2007

Tropa de Elite – me deixou bem chateado, do jeito que não gosto que aconteça no cinema. Me fez pensar nos meus erros. É um jeito tosco de ser chamado à reflexão esse. Tenho uma profunda inveja desse manliness dos policiais. Não tenho a habilidade de expressar minhas idéias de um modo viril, yan, macho. (Não reclamo, mas acho bom que eu tenha essa percepção de realidade para não cair na desgraça de uma impressão equivocada sobre mim mesmo – em processo de aperfeiçoamento). Falo com um certo tédio, uma certa distância do interlocutor, voz anasalada, sotaque ridiculamente escorregadio e um ar professoral bem caipira às vezes e só recentemente encontrei a glória que é o silêncio guardado. Mesmo assim não sei bem a hora de fechar a matraca antes do mal estar generalizado advindo de uma frase ou comentário infeliz de minha parte. That´s who I am, no big deal.

3 de setembro

Acho que todo o broo-ha-ha causado pelo estupendo sucesso de vendas do Tropa de Elite no camelô é mais uma prova, viva e intangível, da profunda ignorância própria do povo brasileiro, do qual faço parte.

Veja bem, caiu um avião em São Paulo mês passado e foi uma calamidade daquelas amadas pelos editores de jornal, dias e dias e dias de manchetes, reportagens longas, reverso, grooving e quetais. Na CPI que investiga a loucura do controle de tráfego aéreo se voltou a atenção pro (perdão, perdão) “acidente da TAM” (saco, saco). Assim, magicamente passamos da comoção quase internacional pra saturação e, finalmente, desinteresse.

Tropa de Elite, filmaço, comprado no camelô por inúmeros cariocas, assistido por tantos outros; colocou a indústria do pirata na manchete dos jornais cariocas. Apreende, investiga, chama o diretor, o cara da empresa de legendagem, chama o ator, carnificina.

Me conta, qual foi do bagulho? Qual a razão da gente andar na Rio Branco, e em qualquer esquina, a qualquer hora, poder sempre comprar a dez real qualquer lançamento de cinema na cara dos puliça e ninguém nunca fala nada? Maria Antonieta vale menos que o BOPE?

O Presidente viu o filme dos Filhos de Francisco no piratão, aliás, a bordo do Brazilian Air Force One, com dona Marise, imagino, linda, amiga, esposa, aconchegada na poltrona ao lado. Deu um certo rebú, era pirata, nem existia DVD original ainda, mas em algumas horas ninguém já falava mais disso.

Se o piratão age fácil na cara de todo mundo, qual é a razão do bafo quente, pergunto eu mais uma vez.

Francamente, ô.

Ah. Perguntei pros meus porteiros se algum tinha visto o filme, o resultado do DataLulu na portaria foi zero. Faxineira, motorista de táxi, povão – alguns até ouviram falar, mas nenhum realmente tinha visto. Todos os comentários sobre o filme vieram dos meus amigos e conhecidos que realmente podiam pagar pra ver no cinema.

Tudo é muito feio, não tem como defender a pirataria (blábláblá) mas acho que vai ser bom pra todo mundo, no final das contas.

Vou emendar um chutômetro rápido aqui:

Encontraram 28 mil cópias do DVD na Baixada Fluminense. Vamos considerar que umas 50 mil cópias vazaram e foram vendidas na Uru. Caçei uns dados e achei as maiores bilheterias nacionais do ano passado na Veja:

A GRANDE FAMÍLIA, O FILME - 2.027.353

XUXA GÊMEAS - 1.001.480

O CAVALEIRO DIDI E A PRINCESA LILI - 736.293

A TURMA DA MÔNICA EM UMA AVENTURA NO TEMPO - 508.964

Ó PAÍ, Ó - 382.386

CAIXA DOIS - 247.115

O CHEIRO DO RALO - 150.378

NÃO POR ACASO - 78,313

ANTÔNIA - 79.389

CARTOLA - 62.042

Chamo aqui a atenção pros red carpet material Grande Família, Xuxa, Didi e demais menções honrosas à produção cultural nacional. Não tem como reduzir o consumo de drogas num país com um cinema desses, pelamordedeus!!!!!! Sejamos francos. Não tem como. O filme do Bope é só uma constatação triste de uma existência patética.

Francamente, 50 mil não é nada. Mas mais uma vez, prefiro ser inconclusivo e não defender que acabou sendo bom pro diretor porque crime nunca é bom pra ninguém – mas alguns números falam por si. E o futuro.

Em tempo, vi. Não possuo.
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carioca, advogado, solteiro.