Friday, February 16, 2007

Tem mais ou menos uma semana que um assalto terminou com uma criança morta porque ficou presa no cinto de segurança, os assaltantes simplesmente não deram a menor bola e seguiram com o menino pendurado do lado de fora do carro, por 4 quilômetros. Uma barbárie, lembro que eu estava trabalhando quando parei pra respirar e dar uma olhada num site qualquer de notícias e fiquei atordoado. Que dor, meu Deus, que dor deve ter sentido esse coitado, que dor vai acompanhar essa família pra sempre.

Mas acho que nem tanto. Passou uma semana, o negócio tomou uma proporção bíblica na imprensa (todo o resto de notícias já estava com gosto de ruminada, devem tem respirado aliviados em muitas redações por aí). Uma catarse coletiva, como tudo, claro.

O menino tem nome e sobrenome, que não lembro realmente graças à minha fabulosa memória de peixe. Esse nome e sobrenome virou um mantra nacional. Ainda temos que agüentar a locução "o menino fulano". O menino! Será o menino Jesus?

Não tinha parado pra pensar nisso, um inconsciente coletivo está comparando esse sofrimento todo com o de Jesus de Nazaré.

Missa de sétimo dia, Igreja da Candelária. Milhares de pessoas. Camisetas com foto do menino (não o Jesus, o do assalto).

Queria saber se eu sou um animal insensível ou se realmente essa histeria coletiva se justifica. O crime foi um horror, etc etc etc. mas me parece que essa família não tem a menor noção de coisa alguma.

Pra que viver o luto em público? E o senso de integridade? E a filha que sobreviveu? Que gente desesperada é essa que vai chorar em missa de sétimo dia de uma pessoa que nunca viu, nunca ouviu falar, nunca nada. Como assim? Mártir? Santo? Com todo respeito à família, é uma moda virar celebridade? Já viraram, se o jornal de hoje amanhã não embrulhasse banana na feira, garanto que em 30 anos lá onde moram ainda seriam conhecidos como a ´família do menino x´. Mas essa celebridade trágica e instantânea vai durar até a próxima hecatombe jornalística. Aliás, o carnaval já está aí pra fazer com que esse assunto deixe, com a santa paz de Deus, de ser comentado.

1 comment:

Unknown said...

Olha, ainda existe a possibilidade de você ser um animal insensível. E existe ainda a possibilidade de redenção.

huá

Eu acho que histeria coletiva é uma boa. Não sei por que, mas eu acho. Sem ela, o mundo seria um lugar muito fútil.

(No cantinho, aqui onde ninguém lê: hecatombe é com H de Homem com H maiúsculo... e significa literalmente "cem bois". Viu como ler Homero pode ser interessante?)

Ah, eu coloquei o teu link no meu bloguinho. Não se preocupe, você continua anônimo. Ruá ruá ruá.

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carioca, advogado, solteiro.