Tuesday, August 18, 2009

Tenho visto algumas coisas de deixar o queixo de Freud caído.

Estão vendendo terapia por aí como um método para encontrar o eu sonhado.

Algo como "estou triste com os resultados de tudo até agora e quero mudar!"

Mudar para o que? Para o que nunca se foi.

Tenho visto resultados de dar dó. Sem exceção. Todo mundo que eu conheço e resolveu ir ter um papo com um terapeuta muito tarde ta caindo num rodamoinho sem retorno da própria existência.

Não tô dizendo que é certo que existe um momento pra terapia. Nada é lá muito certo. Mas a amostragem me confirma algumas conclusões.

Acho que se faz terapia pra se enncontrar. Sua visão diante do espelho tá meio embaçada e alguém vai lá, te faz as perguntas certas, e te conduz suavemente a traçar seu próprio mapa.

Um muito conhecido tenou e abandonou. Não ouviu nenhuma fórumla mágica, nenhuma frase de efeito do "Quem botou a mão no meu queijo" nem nenhum clássico da auto ajuda neurolinguística corporativa mas ouviu perguntas sobre a mãe, sexo e a relação com o mundo. Claro que o sujeito nunca mais voltou. É uma questão de se pretender chegar em Mustique e ir parar na Praia da Bica.

Não se foge dos fatos.

Mas acho que uma mãozinha profissional, num determinado momento da vida, é muito útil. Numa hora em que os diversos caminhos se apresentam diante da gente, ou seja, pelos vinte e poucos anos, ter uma luz a mais pra jogar em cima da confusão de informações que a gente carrega na bagagem meio sem entender ainda é muito útil.

Você se encontra, lógico que é um processo doloroso - ninguém sacaneia Dorian Gray sem quebrar o encanto. Se buscar é um caminho, e receber algumas ferramentas é bastante proveitoso.

A ferramente um é deixar a culpa de lado e desembaçar certos medos. A culpa nos paralisa e nos conduz de volta ao caminho que estávamos, sem chance pra subverter coisa alguma.

É preciso trair o que se acreditava cimentado.

Daí se faz escolhas incríveis e essas escolhas, nesse ponto da história, podem ser determinantes. Como naquela conversa do avião que ia sair de oslo pro Rio de Janeiro num vôo programado. Se mudar um ou dois grauzinhos... lá se vai parar em Buenos Aires. É sutil, não custa muito e o resultado, se encontrar terra boa e fértil, é pura alegria. São as pessoas felizes.

Não sei se hoje é possível lidar com o mundo sem algum tipo de terapia. Nem que seja pra fazer uma DR consigo mesmo. Honesta. Limpa. Espelho sem embaço. É um ideal que não se conquista. O caminho é o fim. Krishna, no Bagavad Gita, era um guerreiro. Não foi à toa. Moisés conduziu o povo judeu pelo deserto, passou poucas e boas, abriu o mar, tirou água da pedra, quebrou bezerro de ouro, foi um escarcéu. Nada disso existe na tradição sem uma boa razão de correspondência com o que temos.

Por outro lado, terapia muito tarde leva à decepção de estar longe demais do que se esperava para si. Outro personagem. Daí eu tenho visto tratamentos que consistem em quebrar todas as identidades e construir uma outra, aquela que se sonhava tanto em ser.

Barbeiragem total. Você queria ser um ariano de sucesso? Então você se componha como um deles. Vista-se, torça pelo mesmo time de futebol, pratique os mesmos esportes, faça igual. Mesmo que você mesmo (e eu acho que esse personagem do qual estão tentando se livrar é mais fiel ao que se é, na verdade - acho, na maioria das vezes não se vive um erro tão bem articulado assim, a vida toda) mesmo que você mesmo não tenha nada daquele código de roupa, nem tenha muita aptidão pro futebol, nem tenha coordenação motora que te faça um bom esportista naquelo que elegeu. Ou seja, essa terapia vai conduzir, aguardo os próximos capítulos, os burros à água.

O balanço natural entre bom e ruim vai dar um saldo neutro. toda experiência é válida, e quem sabe a minha ignorância esteja me fazendo ver isso tudo como um pretenso erro. Quem sabe não é uma outra maneira de se fazer um papel ridículo um jeito de se encontrar a si próprio. mas aí estamos falando de mais um desapontamento. E eu prefiro não acreditar em desapontamento comoo remédio. É só parte do jogo.
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carioca, advogado, solteiro.